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Nicolau, o catador
Todo dia bem cedo, pego minha carroça, ponho em cima os badulaques e os bagulhos onde eu dormi, e saio pelas ruas em busca de tudo que possa ser reciclado. cato um resto de palavras aqui, algumas rimas de versos de pés quebrados ali, alguns fragmentos de linhas mal traçadas descartadas acolá. sobras de conversas, sorrisos amarelados, sentimentos embolorados, sonhos esfacelados, esperanças perdidas, juras de amor impossíveis, tudo serve. tudo que eu conseguir juntar alguém quererá um dia. sinto-me um poeta que vive das sobras dos sentimentos, das lágrimas embotadas, dos corações partidos...
(gutomaia)